16 de dezembro de 2009

A do amigo secreto


Todo ano é a mesma coisa: circulam os papeizinhos, cada um pega um, e logo já vem um grito:

- Me tirei!

Recolhe-se os papeizinhos e começa tudo de novo, até ninguém estar com um papel com seu próprio nome. Sorte que a tecnologia mais uma vez contribuiu a favor dos problemas do homem: alguém teve a inteligente ideia de fazer o www.amigosecreto.com.br, um site para fazer esse sorteio chato de forma totalmente automática, sem a chance de ter que começar o sorteio novamente cada vez que as pessoas “autosorteiam-se”.

O site, além do sorteio, tem as funções de troca de bilhete anônima, escolha de presentes e – é daí que vem o dinheiro – parcerias com e-commerces para você já procurar o presente numa dessas lojas e comprar ali mesmo, rapidinho.

Apesar de ter achado a solução interessante, tenho que admitir que a graça foi totalmente perdida. Talvez porque eu não vejo mais graça em amigo secreto nenhum, ainda mais quando sou obrigada a escolher o presente e já sei o que vou ganhar.

Mas, uma coisa é certa: melhor ganhar o que pediu do que as famosas adaptações.

- Fernanda, não encontrei o cd do Green Day, mas comprei esse, vê se você gosta.

- ... Twister??????


Ou, ainda:

- Desculpe, Fernanda, esqueci seu presente! Comprei essa lembrancinha na lojinha aqui ao lado e amanhã trago o presente de verdade, tá?

Uma semana depois, ainda não havia presente de verdade. 8 anos depois, ainda não há. E o presente quebra-galho era uma camiseta feia de doer, dada pelo professor que eu mais odiava.

Mas todo ano é a mesma coisa: gente que não vai e pede pra outra pessoa entregar o presente (o que é sempre chatíssimo: se a pessoa não ia, por que entrou no sorteio?), gente que esquece, gente que ganha coisas sem nenhum sentido... Por que, afinal, insistimos nessa brincadeira já tão manjada?

Na minha família, começaram a fazer porque era mais econômico. Cada um só compra um presente e pronto. Mas é claro que nunca funcionou assim. Sempre tem “uma lembrancinha” pra um e pra outro além do presente do amigo secreto.

Já no trabalho, tem sempre alguém que dá a ideia e resolve fazer os cadastros ou papeizinhos. Tem sempre também aquela pessoa ocupadíssima da qual todos ficam dependentes pra poder fazer o sorteio - um porre. E o risco de tirar o chefe, ninguém pensa nisso? E o trabalho de ficar pensando em descrições antes da entrega do presente? A gente logo sabe se a pessoa não pensou em nada:

- O meu amigo secreto eu não conheço muito, mas ele parece ser muito legal!

E todo ano é a mesma coisa: o Fulano vai lá e entrega um vale-presente da loja X pro Beltrano. Os dois tiram uma foto juntos e é isso aí. Nenhum dos dois se conhece, mas já são “amigos secretos”.

A gente sabe que é bobo, que algumas vezes não tem nenhuma sinceridade e que em pelo menos 80% dos casos não vamos sair satisfeitos nem com o amigo, nem com o presente. Mas não tem jeito, Natal sem pelo menos um amigo secreto é só comida, especial da Xuxa e Missa do Galo. Ou só comida.