25 de abril de 2010

A do Alice

Uma das coisas que mais gosto no Tim Burton, diretor dos memoráveis Peixe Grande e Beetlejuice, é a capacidade de criar filmes fantásticos para adultos. É fácil fazer filmes fantásticos para crianças - afinal, as animações estão aí para isso. Mas a perspicácia de Burton sempre foi o sombrio cômico, que diverte e encanta como qualquer criança fica encantada com um conto de fadas.

Com Alice no País das Maravilhas, para a minha surpresa, não foi diferente. Esperei bastante tempo pelo filme. E, do anúncio de uma provável produção em parceria com a Disney até as datas de estreia, fiquei apreensiva, pensando se esse não seria mais um filme com potencial totalmente estragado pelo excesso de efeitos especiais, como aconteceu com Sweeney Todd. Mas o filme me supreendeu de verdade.

Destaco a atuação de Johnny Depp, que, apesar de lembrar muito o Willy Wonka também dirigido por Burton anteriormente, deu alma a um Chapeleiro Maluco que eu sempre achei bem sem-graça no desenho da Disney. Helena Bonham Carter também foi fantástica, mas o grande campeão só pode ser o meu querido George McFly, Crispin Glover. Os três são mesmo os atores perfeitos para o estilo de Burton, e acho até que o Glover demorou demais para aparecer em um filme dele.

A parte chata do filme fica por conta da Rainha Branca, Anne Hathaway. Mas, sei que isso é culpa de Lewis Carroll, não de Burton. Como sempre acontece nas histórias infantis, as vilãs são sempre muito mais interessantes que as mocinhas.

Mas talvez  o maior mérito de Burton foi ter feito, mais uma vez, uma adaptação não-fiel ao livro - aliás, uma mistura de dois livros - tão bem feita. A história não se perde no meio do caminho, fluiu muito bem do começo ao fim, e mostrou uma Alice cheia de espírito e vontades próprias que jamais veríamos no desenho da Disney.

Já a trilha sonora, como não podia deixar de ser estando a cargo de Danny Elfman, foi ótima. Não temos nem como questionar suas ótimas composições, mas acredito que de tanto fazer as trilhas para filmes do Burton fica fácil reconhecer nelas um pouco de cada filme que ele já fez. Alice, ao meu ver, foi uma mistura de Edward Mãos de Tesoura, principalmente nas partes com coro, com Batman, nas partes mais tensas, de ação. Ponto para ele, porque as duas trilhas são ótimas mesmo.

O ponto baixo, devo dizer, são os créditos: o temido momento em que a música-tema, de Avril Lavigne, surge em nossos ouvidos. Tratei logo de sair correndo do cinema, como boa brasileira, mas tive que esperar meu namorado cinéfilo terminar de ler os créditos, o que resultou em uma tremenda dor de cabeça por escutar aquela menina berrando por mais de 2 minutos.

Mas isso é só um detalhe perto de tudo o que o filme foi. A parceria com a Disney tem suas desvantagens, é verdade, pois os cinemas estão super lotados à noite pelo fato de as seções do dia serem todas dubladas. Entretanto, acho que a divulgação do filme é justa para Burton, um diretor sempre tão renegado de fama e verbas para grandes produções. Ele merece destaque, e vê-lo com Alice, agora, me proporcionou um alívio tremendo depois do fracassado Sweeney Todd. Alice é, afinal, um filme que nenhum fã de Burton e nenhum fã de Carroll pode perder.

4 de abril de 2010

A dos bêbados

Não fosse pelo fracasso da humanidade em permitir o uso de substâncias tóxicas, os bêbados poderiam ser extintos da face da terra. Como os dinossauros. Só que os bêbados são pessoas alegres e amorosas, e os dinossauros eram grandes e espaçosos, ninguém gostava deles. Bêbados sempre fazem a felicidade da festa. Como palhacinhos amestrados,  que dançam e pulam para a diversão daqueles que ainda não estão bêbados. Até que...

- Nossa, tô bêbada pra &%$*!! Mas eu acho que Hitler fez um traba...trabalho mal feito. Ele não exter...terminou as coisas direito.

Porque os bêbados sempre se sentem no direito de dizer e fazer o que bem querem. Ainda mais se o bêbado em questão tiver razões psicológicas para se embebedar. E quando digo razões psicológicas, quero dizer razões amorosas, ou simplesmente amorososo-cornísticas.
 
- Bebo MEEEESSSSMO, sabe por quê? Porque sou COOOORRRR-NA, ninguém me QUEEEER!!! Se eu beber pelo menos fico mais bonita.

Mas não, não podemos reclamar. Nossa sociedade, mesmo com toda a sua superioridade perante às demais, permitiu que substâncias como o álcool, só para começar com as lícitas, fossem utilizadas. O que iremos argumentar, então? Vamos dizer que o álcool só pode ser ingerido por pessoas responsáveis, cujo poder intelectual seja superior à vontade de passar para situações ridículas.

- Ô DOMENIIIIICHE! DOMENIIIICHE!! Eu sei o que você fez na Páscoa passada, DOMENIIIICHE! Vou contar tudo pro seu namorado, DOMENIIIICHE!

O problema é que mesmo que você seja uma pessoa responsável e com poder intelectual superior à sua vontade de passar por situações ridículas, vem um bêbado e faz você passar pelo ridículo de qualquer forma. Aliás, quanto mais discreto voce quiser ser do lado de um bêbado, mais ele irá te perturbar.

Fazer o que, então? Mandamos prender? Mas eles não estão cometendo nenhum crime. Bebem o que está sendo vendido aí, livremente. E você pode querer usar as mesmas substâncias que o bêbado, com mais responsalidade, sem ser necessariamente um mal à sociedade.

Colocar o bêbado em extinção? Mas eles se multiplicam a cada bebedeira! Reproduzem-se com fertilidade sempre colocando a própria bebida como desculpa para seus atos, adúlteros ou não. Além do mais, uma caça aos bêbados hoje poderia gerar uma comemoração tão grande amanhã que seria necessário repetir a caçada várias e várias vezes, até que o completo extermínio da raça humana fosse atingido.

Então não nos resta outra alternativa: fujamos da festa e deixemos os bêbados para trás enquanto há tempo. Inconvenientes como gritos de fúria podem acontecer, mas é para o bem de todos. No final, o que importa é que eles sumam de nossas vistas, com seus hálitos desagradáveis e vozes esganiçadas. Vamos deixá-los soltos, mas sozinhos, condenados à prisão perpétua de sua solidão. Um brinde aos bêbados incovenientes que descansam em paz, longe de nós - saúde.