23 de janeiro de 2011

Um ano

E nem tive tempo de dizer tchau.

Vasculho os álbuns atrás de fotografias. Onde estão as fotos? Não as tenho. Só as velhas imagens de uma infância tão vibrante, e em muito graças a ele. Fotos recentes não há porque há tempos ele andava triste, cabisbaixo... me perguntava se ele não gostava mais de mim. Talvez porque eu cresci, não sei. Ele tinha passado por muita coisa, tinha direito de estar infeliz e querer ir embora. Mas queria ao menos ter tido um pouco mais de tempo, queria que ele estivesse presente em minhas conquistas. Seria querer demais?

Ele pode não ter sido o pai ou o marido mais perfeito do mundo (é bom sermos justos). Mamãe se queixava de sua severidade, vovó brigava o tempo todo. Mas como avô, ah... do que reclamar? Quando criança, minhas amigas gostavam mais dele do que de seus próprios avós. Também, pudera: que avô traria tantos doces, faria tantas brincadeiras, divertiria tanto? Eu morria de ciúmes... Tive tanta sorte! Mas queria ter tido só um pouco mais. Seria muito pedir só mais alguns anos?

Um ano. Passou depressa. Ficou o arrependimento de ter dito pouco. De não dizer o quão importante ele era, o quanto o amava, o quão feliz fui e o quão grata sou por tudo o que ele fez. Ele sabia? Espero que sim. É que sempre foi muito mais fácil escrever do que falar.

Por isso deixo registrado: tenho saudade, vôzinho. Não precisava ter sido assim. Mas agradeço por tudo e tento me conformar pensando que foi melhor. E a cada novidade, penso: ele estaria feliz por mim. E é assim que espero que ele esteja: feliz, tranquilo... respirando o ar do campo.

20 de janeiro de 2011

Por que eu odeio brasileiros


A retomada deste blog.

Não, não digam que não sou patriota, que não gosto do meu país, do meu povo. Isso não tem nada a ver com patriotismo, mas com bom-senso. Admitam: em geral, brasileiros são chatos. E você percebe isso quando se distancia da grande massa de brasileiros que vê todos os dias e se aproxima de uma minoria um pouco mais abastada.

Faça uma viagem internacional pra comprovar. Pode ser pela CVC, Estela Barros, sei lá. Vá pra Miami, escala de todo mundo que vai “pra Disney”. Famílias inteiras: crianças, bebês, avós... Fique no aeroporto observando os brasileiros.  Todo mundo com a sacola Victoria’s Secret  Semi Anual Sale e Disney Store, com cobertorzinho do Mickey dentro, pra não passar frio durante o voo. Fique lá, sentadinho, esperando seu voo por algumas horas e observe como os brasileiros, que vão chegando ao gate para voltar para São Paulo (porque o Brasil todo tem que passar por São Paulo nessas horas, mesmo), se comportam de maneira chata.


Tem o brasileiro Novo Rico:

- Oi, pai, é o Paulo. É, eu to aqui EM MIAMI [gritando]. Vim com o PASSAPORTE VERMELHO, ITALIANO. A Luísa ficou lá em São Paulo, a Gabi não tá muito bem. Ela vai levar ela no ALBERT EINSTEIN [curioso é que o cara grita, mas nenhum americano sabe que o Einstein é hospital de gente rica, logo, pra quê???]. Uhum. Tá, eu ligo quando chegar, to com meu IPHONE. Uhum. Tá, tchau.

Tem o brasileiro adepto ao golpe do Green Card:

- Oooooi, Diiii!! Tô em Los Angeles ainda! Menina, você não sabeeee! Eu tava em Las Vegas com o Braaaandon, sabe? O Braaandonnn! Meu namorado! Então, a gente tava lá porque ele foi fazer uns trabalhos, sei lá direito o que ele ia fazer, aí eu fui junto! E a mãe do Braaaaandonnn me deu 100 dólares pra gastar no cassino. 100 dólares!! Aí eu fui lá jogar, né? Ganhei 900 dólares, menina!!! Dei um pouco pra mãe do Braaaandon, né, afinal se ela não me desse os 100 dólares eu não teria jogado. E menina, eu comprei um iPad! Comprei não, né, o Braaaaandon me deu. O iPad faz tudo, menina, você precisa ver. Faz tudo! Ai, o Braaandon tá sendo tão bom pra mim...

Tem o brasileiro que adooooora formar fila (todos):

- Vai, Juliana, vai lá pra fila que já vão começar a chamar.
- Mas que fila, pai?
- Ué, fica lá na frente, pra ser a primeira!
- Mas chamam por grupo, pai! Que grupo a gente é?
- 15. Mas tudo bem, fica lá que daqui a pouco a fila começa e se a gente não tiver lá a gente não consegue embarcar, vai, vai lá.

Tem os brasileiros teimosos:

- Ladies and gentlemen, there are still some people standing in the aisles, so we’re waiting for you to seat down and close the baggage compartments so we can leave the gate.
 

- Senhores paxageiros, ainda há pessoas em pé no... corredor, estamos a esperar vocês se sentarem –se então a gentche poderá partir do portão.

- Mano, será que não cabe essa mala aqui? [Tentando enfiar uma mala enorme no compartimento do avião]
- Ah, vai ter que caber, né!
- Sir, may I help you?
- Ãhn?
- English?
- Não.
- Português? OK. O senhor precisa despachar essa mala.
- Por que?
- Porque ela não se encaixa no tamanho estabelecido, senhor. Vamos, eu ajudo.
- Mas eu queria viajar com ela, porque tem coisas que eu posso precisar aqui.
- Nós avisamos antes do embarque: o senhor só pode levar na cabine as malas que cabem no compartimento ou embaixo do banco.
- Embaixo do banco? Mas num cabe!
- Então vamos ter que despachar.
- Não, não, peraí, vai caber! [Espreme todas as malas do compartimento e empurra a mala enquanto fecha a “portinha”] Viu? Falei que ia caber!


E tem as crianças brasileiras, durante o voo:

- Ô MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! Olha, peguei água!!

- Ô MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! Olha, peguei pão!!

- Ô MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! A gente tá chegando?

- Ô MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! Já ligou pro papai?

- Ô MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE! Tô ligando, tá? PAAAI! OOOOI! A GENTE ACABOU DE POUSAR, TÁ? É, A GENTE VAI PEGAR O AVIÃO PRA IR PRA BRASÍLIA DAQUI A POUCO. SIM, VI O PLUTO, O PATETA E A MINEI (sic). UHUM. É, TÁ BOM. BEIJO!


Chegando a São Paulo, eles seguem por suas filas, ocupam toda a esteira com carrinhos que impedem a passagem de qualquer ser humano que queira achar suas malas, param no “free shop”, pegam mais filas para pagar, compram mais Victoria’s Secret e saem pelo desembarque pulando de alegria: “Eeee, chegamos na nossa terraaa!”.

Grande coisa.