Chegando ao fim de um curso que eu resisti em fazer por algum tempo, me lembrei de um professor que tive. Em 2005, ainda no colégio, eu faltei algumas sextas-feiras para assistir com meu namorado às aulas de Literatura do famoso FT, Fernando Teixeira, no Curso Objetivo da Av. Paulista. Eu queria ter o gostinho de ter aula com aquele fenômeno porque estava convencida de que, naquele ano, eu iria entrar em Jornalismo e não precisaria fazer cursinho, então tinha que aproveitar para ter uma boa aula de literatura algum dia.
"Bom dia, seus mal educados!" |
Depois de algumas aulas com o FT, acabei me convencendo que não era assim tão má ideia prestar Letras, pelo menos na Fuvest. Nas outras faculdades, eu ainda iria prestar Jornalismo. E então, os meses foram passando, a paixão pela literatura foi crescendo... até que me encontrei nas aulas sobre Machado de Assis – ainda, porém, sem querer admitir que minha futura profissão seria professora - que destino assustador! E se eu fizer Letras primeiro e depois fizer Jornalismo?
Quando subi as escadas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) pela primeira vez, em 2007, o FT me veio à cabeça:
Quando subi as escadas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) pela primeira vez, em 2007, o FT me veio à cabeça:
“Seu pai te promete um carro se você passar na USP. Você, todo orgulhoso chega para ele: ‘Pai, passei, me dá um carro?’ Seu pai responde: ‘Mas... Letras??? ’”
Eu não sabia bem o que estava fazendo ali. E nunca soube. Meu curso tem uma nota de corte baixa, recebe 850 novos alunos todo ano, o prédio é um dos mais decrépitos da USP, enfrentei umas 3 greves nos últimos 4 anos – incluindo a famigerada invasão à reitoria e a terrível visita da PM ao campus – e muitas, muitas aulas interrompidas para “um recado” do pessoal filiado ao PSTU, ao PCO, a não sei que grupo. Não há grandes motivos para orgulho a não ser o fato de que, apesar de tudo, é USP. Mas parece que eu não era mesmo a pessoa certa para fazer Jornalismo. As línguas e literaturas fazem parte de mim, sempre fizeram. Talvez um outro curso, uma carreira diferente, me faria bastante infeliz.
Tive muitos professores de literatura na FFLCH. Alguns picaretas, alguns meia-boca, outros que eram verdadeiras atrações que lotavam as maiores salas de aula da faculdade, como acontecia com o FT no Objetivo. Mas nem o melhor professor da FFLCH dá aula com tanta vontade quanto o professor Fernando Teixeira deu. Ele que, com câncer em estágio avançado e fortes dores, morreu no dia seguinte àquele em que deu 18 horas de aula sem parar – porque queria, não porque precisava. Ele, que não aceitava uma licença médica para se tratar. Ele que, formado em Direito, sabia versos e mais versos dos Lusíadas, passagens e mais passagens de Brás Cubas de cor mesmo sendo totalmente autodidata em literatura.
Hoje tenho um bom emprego, em uma boa empresa. Trabalho com Educação, mas não sou professora, ao contrário do que o senso comum diz sobre quem faz Letras. Não tenho o mesmo salário nem o mesmo prestígio de quem fez Medicina, Direito ou Engenharia, mas estou feliz com o rumo que minha vida tomou. E agradeço ao FT por ter me mostrado esse caminho.
Digo com o orgulho de quem esperou por isso a vida inteira: me formei na USP.
Digo com o orgulho de quem esperou por isso a vida inteira: me formei na USP.
5 comentários:
Para mim, o que ele dizia era: "Bom-dia, Maleducados", assim, numa palavra só. hahaha...
Melhores aulas de literatura da história.
Que surpresa eu tive agora ao ler esse texto! Tive aula com o mestre FT em 2005 e jamais encontrei outro que chegasse à tal nível de sabedoria + tesão em dar aula, me emociono sempre que lembro dessa ótima pessoa que eu tive o enorme prazer em conhecer e que, definitivamente, também mudou a minha vida.
Que nostalgia o seu texto me trouxe ! Hj na hora do almoço conversei com amigos sobre os professores do cursinho Objetivo, tive o imenso prazer de ter aulas com ele na unidade de Sto Amaro, e como é incrível o legado que ele deixou em diversos alunos.
Que descanse em paz FT!!
Sucesso para você.
Li seu relato muito emocionada!
FT foi o melhor professor que tive - bem, talvez divida o posto de melhor professor com o grande Ciro de Moura Ramos e com outro Fernando, que foi meu professor na USP.
Eu fui aluna do FT e do Ciro em 1991 e 1992, no Objetivo, mas até hoje lembro das aulas deles.
Nunca esqueci de trechos de poemas interpretados com emoção pelo FT, mas o mais impagável é a lembrança de ele cantando Give It Way e comparando Red Hot Chili Peppers com Camões! Ele era fantástico!!!
30 anos passados e esse professor ainda me emociona! Nem sei se foi o meu inconsciente, mas depois de dois grandes mestres chamados Fernando, acabei dando esse nome ao meu filho.
A propósito, fiz engenharia, sou engenheira de verdade, mas os bons salários e prestígio também não estão muito próximos de mim, se isso servir de consolo, mas como dizem, o sucesso é ser feliz! Sucesso e felicidade!
Eu também fui aluna do Objetivo da Paulista em 1998.Eram os melhores em literatura e história. Me deu um saudosismo lendo seu relato. Sou Nutricionista Dietética.
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