26 de agosto de 2009

A do Dia Internacional da Igualdade Feminina


Vi agora há pouco um comercial do O Boticário bem interessante. Não encontrei no YouTube, mas é mais ou menos assim:

Mulheres em passeata com placas do símbolo feminista
"Na década de 70, as mulheres lutaram por igualdade de direitos."
Mulher executiva andando no meio da multidão na rua, olhando para o relógio.
"Conseguiram. Só que agora perderam algo muito precioso: tempo."

E segue falando que, com apenas 2 minutinhos por dia, você pode cuidar da sua pele.

Pois bem. Hoje é Dia Internacional da Igualdade Feminina. Supreso? Eu também. Não só porque desconhecia a existência dessa data, mas também porque essa igualdade não existe. Mulheres ainda ganham menos que os homens, ocupam menos cargos de chefia, têm que lidar com a dupla jornada de trabalho e volta e meia aturam propaganda ridícula de creminho pra lá e pra cá. Então pra quê um dia desse?

Busquei a origem da data, mas tudo o que consegui encontrar foram artigos em sites políticos ou textos sobre a origem do Dia Internacional da Mulher. E como política não é bem o viés desse blog, acho melhor deixarmos a questão da origem um pouco de lado.

A grande questão é: essa história de que "muito já foi conquistado" é pura balela. O direito ao voto aqui no Brasil foi conquistado pelas mulheres na década de 30. Já se foram mais de 70 anos e nunca tivemos uma presidente mulher, ao contrário de nossos companheiros latinos do Chile. É claro que se uma Marina da Silva da silva fosse eleita não ia dar boa coisa e ela acabaria rechassada pelos patriarcalistas de plantão, aguentando críticas muito mais duras por ser mulher e negra. Mas isso também não vem ao caso. O fato é que continuamos nesse conformismo de "já conquistamos tantas coisas" como se a situação fosse confortável. Eu quero ter um cargo de liderança. E quero ganhar o mesmo que um homem por isso! Eu não quero ser obrigada a trabalhar, cuidar de casa, do marido e dos filhos. Quero dividir.

Acho que um dos maiores enganos do feminismo foi não ter divulgado que a igualdade feminina não era apenas em favor de benefícios, mas de deveres também. Porque vira e mexe aparece algum engraçadinho dizendo que sua namorada se diz feminista, mas não quer pagar a conta do jantar. Nesses casos, a ignorância maior é da mulher que quer tirar proveito de uma ideologia que demorou anos para ter algum impacto na sociedade. E ela simplesmente joga fora quando pensa que o homem tem mesmo que pagar a conta e abrir a porta do carro.

E de vez em quando alguém chega e pergunta: "Então por que você não se alista no exército?" Eu digo: "Porque alistamento obrigatório é ridículo e não deveria existir nem pra homem, nem pra mulher". E o sujeito faz cara de bunda.

Uma coisa é certa: não dá mais para pensar que feminismo é sinônimo de produção independente, lesbianismo ou o raio que o parta. Já era, já foi. Isso foi argumento que as famílias conservadoras da década de 70 usavam para manter as filhas longe do movimento. Feminismo é para todas e todos. Não é uma forma de machismo ao contrário, é simplesmente uma forma de colocar tudo no lugar certo e fazer as coisas serem mais justas. O que é ruim para um, é ruim para uma. O que é bom para um, é bom para uma também. Simples assim.

Agora, voltando à propaganda: já escutei e li muito por aí que o feminismo não deu certo porque fez com que a mulher trabalhasse ainda mais, e que era melhor se tivéssemos ficado só em casa cuidando do marido. O mais triste é que quem escreveu isso era uma jornalista, que não teria seu espaço se a realidade fosse essa que ela estava sonhando.

Essa inversão de valores é muito perigosa, porque coloca em xeque toda a nossa condição, como se tivéssemos culpa dela, como se tivéssemos a procurado. O feminismo não produziu a dupla jornada, a sociedade produziu. Simplesmente porque a igualdade não é plena. Porque homens ainda têm menos obrigações. E porque as mulheres, de modo geral, ainda são criadas de modo que a vaidade se torna uma rotina que deve ser cumprida religiosamente, pois do contrário não há aceitação por parte dessa mesma sociedade.

Mas ninguém é obrigada a aceitar isso. Comece aí na sua casa a fazer os homens ajudarem um pouquinho que seja, uma louça, uma cama para arrumar, um jantar para fazer de vez em quando. E se você não quiser pensar nisso, não se preocupe: o creminho de 2 minutos está aí para resolver seu problema de tempo.

20 de agosto de 2009

A do show do Chuck Berry

Atrás dos vendedores ambulantes de camisetas (e também de alguns cambistas) se escondia uma multidão de pessoas de todas as idades com o mesmo propósito: ver Chuck Berry, nada menos que aquele que criou o rock'n'roll.

Cheguei pouco antes das 21h30, horário marcado para o início do show, e sentei-me à mesa marcada. Sim, mesas, porque Chuck não tem mais 30, mas 82 anos, e seu show não poderia ter a mesma vibração da época em que lançou Roll Over Beethoven – que, aliás, foi a música que abriu o show.

Confesso que quase me arrependi de ter gastado R$ 125,00 (meia-entrada na platéia 1 do Via Funchal) quando ele começou a tocar essa música muito mais lentamente do que aquela Roll Over Beethoven que escuto quase todos os dias vindo para o trabalho. Mas sem nem chegar, o arrependimento foi embora no resto do show. Eu percebi que não estava ali pelas músicas. Eu tinha ido ver uma das poucas lendas da música que ainda estão vivas, e se ele subisse no palco, tocasse o solo da Johnny B. Goode e fosse embora, o show já estaria pago.

A set list foi curta, mas incluiu os melhores clássicos do velhinho: Sweet Little Sixteen, Maybelline (tocada depois que alguém a gritou da platéia), School Day, Carol, My Ding a Ling (com um vocal cheio de graça e risada por parte de Chuck e também da platéia) e, por último, Reelin' and Rockin', quando ele chamou 12 meninas e 2 caras histéricos para dançar ao estilo rockabilly um tanto quanto improvisado ao lado dele.

É claro que não faltaram pedidos de músicas. Um cara atrás de mim gritou "C'est La Vie!!", mas o nome da música é You Never Can Tell – muito boa, por sinal. Uma pena o Chuck não ter entendido.

No final do show a platéia estava sedenta por Johnny B. Goode:

- Do you want to hear Johnny B. Goode? You'll hear Johnny B. Goode - anunciou ele.

E logo no primeiro solo ele percebeu que sua guitarra semiacústica estava desafinada. Começou a afiná-la de ouvido (óbvio), mas os roadies já começaram a correr lá atrás e entregaram a ele uma Fender Stratocaster verdona, linda, que deixou a galera ainda mais agitada.

E então ele tocou tudo aquilo que todos nós já ouvimos tantas vezes, inclusive no filme Back to The Future, com Calvin Klein (ou Marty McFly, interpretado por Michael J. Fox) fazendo a Duck Dance em uma piada sobre Chuck Berry ter feito a música depois que seu primo Marvin o fez ouvir o que estavam tocando no baile Enchantment Under The Sea.

Mas vê-lo pessoalmente, tão perto, fazendo aqueles passinhos agora um pouco mais lentos e tocando o solo mais famoso do rock'n'roll foi indescritível. Uma emoção que só quem pega em uma guitarra ou em algum outro instrumento e tenta tocar um rock'n'roll sabe como é. O cara realmente é aquilo tudo. Uma lenda que nos faz ver nitidamente que, enquanto houver gente se empolgando com o bom e velho verso "But he could play a guitar just like ringing a bell", a boa música não morrerá.

Foto: Terra/Stephan Solon/Via Funchal/Divulgação

18 de agosto de 2009

A da Vida de Merda - parte 1

Conhece aquele site, o Vida de Merda? Eu passo horas lendo e dando risada, todos os dias, do povo coitado que coloca suas histórias lá. Mas parece que Deus me castigou e transformou a minha vida em uma merda.

Tudo começou com a volta às aulas. Enfiei todo o material necessário em minha bolsa gigante (caderno, estojo, netbook pra fazer hora na biblioteca da FFLCH e o resto das coisas de sempre – marmitão, nécessaires, carteira, escova de cabelo, óculos escuros, etc, etc...). Ou seja: a pobre bolsa ficou gordona e a pobre de mim ficou com as costas doendo porque pegou dois [micro]ônibus lotados sem nenhuma alma abençoada pra segurar a bolsa, só porque o tamanho dela era assustador.

Tive um dia normal no trabalho, saindo às 17h em ponto porque não sabia exatamente onde pegar o ônibus pra ir até a USP. Acabei pegando sem grandes dificuldades, porque ele sai exatamente do terminal da Lapa. Fui sentada, mas passando mal por causa do calor e das poucas horas de sono na noite anterior (minha pressão devia estar baixa e eu estava com dor de cabeça. Mas não, não era gripe suína, pode continuar lendo o texto sem risco de contaminação). O trânsito estava ruim nas imediações da Marginal Pinheiros e Rua Alvarenga mas, vá lá, eu prometi ser boa aluna esse semestre, resisti à tentação de descer e pegar outro ônibus pra casa.

Cheguei na FFLCH às 18h e, pasmem, já tinha muita gente por lá. Fui até a lanchonete, comprei uns trequinhos, os engoli e fui pra biblioteca gastar o que o ICMS de vocês pagou em forma de banda larga. Fiquei lá à toa até as 19h15, porque a aula começava às 19h30. Fui até a sala marcada calmamente e avistei de longe um papel grudado na porta. Mas sou meio cega, tive que chegar mais perto pra conseguir ler:

“A professora Maria Clara Paixão não dará aula hoje, 17/08, por motivo de doença. Favor pegar o programa na secretaria do DLCV e fazer sua inscrição no Moodle.”

“Qual é mesmo o nome da minha professora de Filologia? Maria Clara? Gente, é Maria Clara!!”


Pra resumir a tragédia:
• Eu tinha feito todo o sacrifício do mundo, carregado praticamente o mundo nas costas o dia inteiro;
• Passado mal dentro de um ônibus baforento;
• Pegado trânsito;
• Atravessado toda a porcaria do gramado “marijuanento” da FFLCH;
• Comido aquele salgado sem sal na lanchonete...

...pra absolutamente nada.

Que a professora estava doente pra mim estava claro. Eu só não entendi como alguém que conhece o Moodle não conhece E-MAIL! Eu ainda tinha fé que o tal e-mail acadêmico serviria pra alguma coisa algum dia.

Meio desolada, fui até a secretaria do DLCV pegar o programa, enquanto decidia se ficava ou não até as 21h para ter minha segunda aula. “Ah, the hell com a segunda aula, vou pra casa mesmo.” Chegando na secretaria, falei com a... secretária?

- Oi, o programa da Maria Clara...
[Ainda tava tentando me acostumar com aquele nome, me matriculei com ela há um século, quando ainda havia greve e a gripe suína era meramente estrangeira.]

- Ah sim, tá aqui. Não se esquece de matricular no tal do Moo... Moodle.
[Ironia do destino: viro designer instrucional e perco uma aula pelo Moodle.]
- Tá bom. Ela vai ficar sem dar aula um tempo?
[Já tava cogitando a possibilidade de ficar sem ir pra USP nas outras segundas-feiras. Vai que ela tinha pego a gripe...]
- Não, segunda que vem ela já está aqui!
- Ah.
[Cara de decepção]

Resolvi ligar pra casa e ver se alguma alma familiar caridosa podia ir me buscar. Eu moro perto da USP, mas aquilo lá é um buraco. Preciso pegar dois ônibus pra chegar em casa e o segundo é o inferno com 4 rodas. Só consegui falar com o meu pai:

- Ah, eu tô aqui esperando sua mãe, ela está em reunião, não sei que horas vai sair.
- Oba! Vou pra casa de ônibus!
- Me liga quando estiver chegando, a gente pega você no caminho.
- Tá.

Sorte que os ônibus da USP, naquele horário, não são tão cheios, e que o primeiro passou rápido. Sorte também que eu consegui, inexplicavelmente, por causa de um buraco de minhoca, talvez, pegar o segundo ônibus menos cheio. Mesmo assim, demorei meia hora pra percorrer uns 6km. É o milagre do transporte público de São Paulo.

Pra resumir a tragédia II:
• Cheguei em casa às 20h, quando poderia ter chegado às 18h se não tivesse ido completamente à toa pra FFhellCH;
• Comi porcaria quando poderia ter comido comidinha caseira vegetariana;
• Estava com a cabeça estourando e ainda tinha um sapato pra trocar no shopping e um presente de no máximo 100 reais pra comprar mim mesma (acreditem, isso não é tarefa fácil).

Fui cumprir essas duas tarefas certa de que nada mais podia dar errado. E não deu mesmo, encontrei um sapato igual com meu número e uma mochila boazinha pra substituir a bolsa gorda. Era mais cara, mas a essa altura eu gastaria meu salário inteiro pra resolver isso.

Enfim, cheguei em casa feliz por pelo menos uma coisa não ter afundado naquele dia de trevas. Mal sabia o que me aguardava no dia seguinte...

11 de agosto de 2009

A do aniversário

Existem pelo menos quatro fases da vida que marcam as diferentes reações das pessoas quando completam mais um ano de vida. A idade e duração das fases varia de pessoa para pessoa, mas podemos delimitá-las mais ou menos assim:

Fase 1: Empolgação - dos 2 aos 19 anos
Seja pelos presentes, seja por ganhar maturidade ou maioridade, a primeira fase é de frenesi completo em torno do dia do aniversário. A fase inclui contagem regressiva, lembrança constante aos familiares e amigos sobre a data e organização de comemorações com, pelo menos, 1 mês de antecedência. Quando a data chega, quem está na fase 1 acorda feliz da vida esperando os comprimentos, presentes e comemorações.

Fase 2: Aceitação - dos 20 aos 29 anos
Depois que os presentes se tornam mais raros, que as comemorações são iguais todo ano e que a maioridade se revela causa de mais responsabilidade, menos diversão e mais contas, o aniversário é aceito como uma data normal. A pessoa na fase 2 chama os amigos mais próximos para uma "comemoraçãozinha, só para não deixar passar em branco", mas no fundo nem tem vontade de comemorar nada. Sabe que o dia será como outro qualquer e que mais um ano de vida não mudará nada.

Fase 3: Negação - dos 30 aos 79 anos
Chegam as rugas, as preocupações aumentam ainda mais, boas noites de sono são escassas, então quem é que quer fazer aniversário a partir dos 30? Por esses e muitos outros motivos a fase 3 é aquela em que é melhor esquecer o dia do próprio aniversário, dizer a quem perguntar que ele já passou e, aos que decoraram a data, que estará viajando a trabalho e não poderá comemorar nada. No dia de seu aniversário, a pessoa que está na fase 3 chega do trabalho e se tranca em casa para assistir novela, futebol ou um filme qualquer como se nada estivesse acontecendo. Comemoração mesmo só por insistência forte da família ou festinha surpresa.

Fase 4: Redenção - a partir dos 80 anos
Sorte ou resultado de dedicação com a saúde, fazer 80 anos é, para o aniversariante da fase 4, uma baita vitória. E como já não há muito poder de escolha e decisão, os preparativos e a comemoração ficam por conta da família. Mas o aniversariante não se importa muito, pelo contrário, o que vier, a partir daí, é lucro.

As descrições não são 100% precisas, mas posso garantir que na fase 2 os sintomas estão fielmente retratados.

3 de agosto de 2009

A do exame médico

Já que mudei de emprego novamente, tive que me submeter de novo àquela burrocracia chata de sempre: cópias de mil documentos, resgate de fotos 3x4 que normalmente tiro, separo as que preciso e distribuo à família e ao namorado e, a parte mais chata: exame médico admissional.

Nunca entendi a utilidade desses exames. Você chega lá, entrega seu RG, assina a guia, espera te chamarem, entra no consultório, responde algumas perguntas, o cara de avental mede sua pressão, ouve seus batimentos, assina o papel, carimba e te entrega desejando boa sorte, coisa e tal. Qualé, pra quê toda a perda de tempo? Eu tenho medidor de pressão em casa. Se é pelo estetoscópio, tenho certeza de que poderia arranjar um e assinar meu próprio "laudo médico" - leia-se assinalar "apto(a)" com um x.

Porém, como ainda não tenho estetoscópio nem CRM, fui até a Xavier de Toledo fazer meu exame admissional. Era um prédio arrumadinho no meio daquela rua horrososa, bem do lado do metrô Anhangabaú. Fiz o procedimento de sempre: falei ao porteiro que iria até a clínica, entreguei minha CNH e dei um sorrisinho pra webcam na minha frente. Subi e fui até a sala 101, onde ficava a tal clínica.

O chão era branco brilhante, com um cheiro absurdo de Pinho Sol. Na frente da porta, o "guiche 07"(sic), ao qual me dirigi.

- Oi. Vim fazer exame pela Pearson.
- Tem algum papel aí?
- Eles disseram que enviaram por fax.
- Me empresta seu RG?
- Aqui.
- Só aguardar.

Sentei num lugar perto do tal "guiche". Coloquei o fone de volta na orelha e fiquei observando as pessoas entrarem. Eram umas 13h30, parece que os médicos estavam almoçando, porque ninguém era chamado. E a mulher do "guiche 07" ainda tinha que me chamar para assinar a guia, que depois de 20 minutos de espera eu estava torcendo ferozmente para que ela tivesse achado.

Quando ela finalmente me chamou, ainda tive que dizer qual era meu estado civil, onde nasci e qual seria meu cargo. Falei pausadamente:

- Designer ins-tru-ci-o-nal júnior.
- Assine aqui e aqui, por favor.

Conferi e ela tinha escrito o cargo corretamente. Ainda bem, só faltava ter que esperar mais 20 minutos para ela fazer uma nova guia. Assinei, peguei a senha (oh, Jesus, ainda tinha senha!) e voltei ao meu lugar. Não deu 3 minutos um cara gordinho de bigode e avental amarelado estava me chamando.

- Fernanda Rodrigues! Fernanda!

Fui andando rápido atrás dele e entrei no consultório.

- Pode se sentar. Então, você vai trabalhar na Pearson Education do Brasil. Pearson Education. Como designer... designer instru... what the hell is that?
- Designer instrucional.
- Ah, designer instrucional? Hum, designer instrucional. Pearson Education. Escola de inglês, né?
- Não, é uma editora.
- Ah sim, editora! É que tem uma outra que tem uns dicionários, uns livros de inglês, uns dicionários que você vai lá - ele falava e colocava o medidor de pressão no meu braço -, não lembro o nome dessa.
- Longman?
- Isso, Longman!
- É da Pearson também.
- Isso, Longman! E Penguin! Que tem uns livrinhos de inglês bem facinho... isso mesmo, Longman. Então, designer... você vai fazer as capas, colorir, fazer as capas dos livros, né?
- Não, não, vou projetar cursos online.
- Ah, cursos online! Que interessante! Sabe, tem um amigo meu que está aprendendo italiano. Ele está há meses, meses!, na primeira lição do livro. Há meses na primeira lição, veja só que coisa! E não adianta, ele passa um tempão fazendo e não aprende nada. Porque não adianta ter o melhor livro do mundo. Você dá um livro pra ele e pergunta: "gostou desse?", ele fala "não". E desse aqui? "não". Então não adianta, não importa o livro se a pessoa não interesse!
- Uhum. - Já estava ficando sem paciência com o velho.
- As meninas aqui estão fazendo inglês. Você fala inglês, né? - Ele ameaçava riscar a ficha e nunca riscava.
- Uhum.
- Então, elas querem falar também, estão fazendo aula e tudo mais. E outro dia eu perguntei: "estão estudando inglês?" e elas disseram: "não, estamos de férias." Mas imagina, estão de férias! Para aprender inglês você tem que praticar, não importa se está ou não de férias. Tem que ir lá no livro, ver o vocabulário, lembrar, voltar e ir revendo tudo.
- Uhum.
- Porque não adianta, Fernanda, se a pessoa não tiver interesse, não há design que chegue! Não há design que chegue!

O sorrisinho simpático que eu tinha no começo já tinha ido embora.

- Porque inglês engana a gente. Em português a gente tem 4 artigos. Em inglês tem só um! Aí o cara vai lá naquele Yahoo, Yahoo Answers... conhece esse?
- Uhum.
- Então o cara vai lá e fala que quer traduzir "carecão" para o inglês em uma palavra só. Não dá, não é igual português! Que nem, que nem "um amigo". Você não vai traduzir para "one friend", numeral. Tem que ser "a friend", mas o pessoal não entende. E se não tem interesse em aprender, não tem, não tem design que chegue!
- É. - Impaciente, já pegando a bolsa na outra cadeira.
- Então tá aqui, Fernanda, vou assinar aqui, porque o importante é você se sentir bem, né? O importante é se sentir bem e ir em frente. E você eu tenho certeza que está bem, né?
- Sim! Sim, claro!
- Então é isso aí. Esse papel vai para a Pearson e você pode entregar para eles e dizer que está tudo bem. Porque o importante é você se sentir bem, o resto é resto. Então boa sorte na Pearson!
- Obrigada, doutor. - Praticamente arranquei o papel da mão dele.

Nem acreditei! Um exame admissional com 20 minutos de duração! Sem perguntas sobre a última vez em que fiquei menstruada, meu peso e altura, nada disso. Nem sei se minha pressão estava normal, porque ele mediu enquanto falava e sequer parou um minuto. Incrível como médicos podem ficar realmente carentes.

Da próxima vez vou entrar com cara de bem (mais) mau-humorada e adiantar que estou com pressa e que parei o carro na contra-mão. Claro que ele iria fazer alguma piadinha sobre meu tamanho e o fato de já ter habilitação, mas seria melhor do que aguentar todo o papo sobre o cara que não consegue aprender italiano.