
Vi agora há pouco um comercial do O Boticário bem interessante. Não encontrei no YouTube, mas é mais ou menos assim:
Atrás dos vendedores ambulantes de camisetas (e também de alguns cambistas) se escondia uma multidão de pessoas de todas as idades com o mesmo propósito: ver Chuck Berry, nada menos que aquele que criou o rock'n'roll.
Cheguei pouco antes das 21h30, horário marcado para o início do show, e sentei-me à mesa marcada. Sim, mesas, porque Chuck não tem mais 30, mas 82 anos, e seu show não poderia ter a mesma vibração da época em que lançou Roll Over Beethoven – que, aliás, foi a música que abriu o show.
Confesso que quase me arrependi de ter gastado R$ 125,00 (meia-entrada na platéia 1 do Via Funchal) quando ele começou a tocar essa música muito mais lentamente do que aquela Roll Over Beethoven que escuto quase todos os dias vindo para o trabalho. Mas sem nem chegar, o arrependimento foi embora no resto do show. Eu percebi que não estava ali pelas músicas. Eu tinha ido ver uma das poucas lendas da música que ainda estão vivas, e se ele subisse no palco, tocasse o solo da Johnny B. Goode e fosse embora, o show já estaria pago.
A set list foi curta, mas incluiu os melhores clássicos do velhinho: Sweet Little Sixteen, Maybelline (tocada depois que alguém a gritou da platéia), School Day, Carol, My Ding a Ling (com um vocal cheio de graça e risada por parte de Chuck e também da platéia) e, por último, Reelin' and Rockin', quando ele chamou 12 meninas e 2 caras histéricos para dançar ao estilo rockabilly um tanto quanto improvisado ao lado dele.
É claro que não faltaram pedidos de músicas. Um cara atrás de mim gritou "C'est La Vie!!", mas o nome da música é You Never Can Tell – muito boa, por sinal. Uma pena o Chuck não ter entendido.
No final do show a platéia estava sedenta por Johnny B. Goode:
- Do you want to hear Johnny B. Goode? You'll hear Johnny B. Goode - anunciou ele.
E logo no primeiro solo ele percebeu que sua guitarra semiacústica estava desafinada. Começou a afiná-la de ouvido (óbvio), mas os roadies já começaram a correr lá atrás e entregaram a ele uma Fender Stratocaster verdona, linda, que deixou a galera ainda mais agitada.
E então ele tocou tudo aquilo que todos nós já ouvimos tantas vezes, inclusive no filme Back to The Future, com Calvin Klein (ou Marty McFly, interpretado por Michael J. Fox) fazendo a Duck Dance em uma piada sobre Chuck Berry ter feito a música depois que seu primo Marvin o fez ouvir o que estavam tocando no baile Enchantment Under The Sea.
Mas vê-lo pessoalmente, tão perto, fazendo aqueles passinhos agora um pouco mais lentos e tocando o solo mais famoso do rock'n'roll foi indescritível. Uma emoção que só quem pega em uma guitarra ou em algum outro instrumento e tenta tocar um rock'n'roll sabe como é. O cara realmente é aquilo tudo. Uma lenda que nos faz ver nitidamente que, enquanto houver gente se empolgando com o bom e velho verso "But he could play a guitar just like ringing a bell", a boa música não morrerá.
Foto: Terra/Stephan Solon/Via Funchal/Divulgação |