3 de agosto de 2009

A do exame médico

Já que mudei de emprego novamente, tive que me submeter de novo àquela burrocracia chata de sempre: cópias de mil documentos, resgate de fotos 3x4 que normalmente tiro, separo as que preciso e distribuo à família e ao namorado e, a parte mais chata: exame médico admissional.

Nunca entendi a utilidade desses exames. Você chega lá, entrega seu RG, assina a guia, espera te chamarem, entra no consultório, responde algumas perguntas, o cara de avental mede sua pressão, ouve seus batimentos, assina o papel, carimba e te entrega desejando boa sorte, coisa e tal. Qualé, pra quê toda a perda de tempo? Eu tenho medidor de pressão em casa. Se é pelo estetoscópio, tenho certeza de que poderia arranjar um e assinar meu próprio "laudo médico" - leia-se assinalar "apto(a)" com um x.

Porém, como ainda não tenho estetoscópio nem CRM, fui até a Xavier de Toledo fazer meu exame admissional. Era um prédio arrumadinho no meio daquela rua horrososa, bem do lado do metrô Anhangabaú. Fiz o procedimento de sempre: falei ao porteiro que iria até a clínica, entreguei minha CNH e dei um sorrisinho pra webcam na minha frente. Subi e fui até a sala 101, onde ficava a tal clínica.

O chão era branco brilhante, com um cheiro absurdo de Pinho Sol. Na frente da porta, o "guiche 07"(sic), ao qual me dirigi.

- Oi. Vim fazer exame pela Pearson.
- Tem algum papel aí?
- Eles disseram que enviaram por fax.
- Me empresta seu RG?
- Aqui.
- Só aguardar.

Sentei num lugar perto do tal "guiche". Coloquei o fone de volta na orelha e fiquei observando as pessoas entrarem. Eram umas 13h30, parece que os médicos estavam almoçando, porque ninguém era chamado. E a mulher do "guiche 07" ainda tinha que me chamar para assinar a guia, que depois de 20 minutos de espera eu estava torcendo ferozmente para que ela tivesse achado.

Quando ela finalmente me chamou, ainda tive que dizer qual era meu estado civil, onde nasci e qual seria meu cargo. Falei pausadamente:

- Designer ins-tru-ci-o-nal júnior.
- Assine aqui e aqui, por favor.

Conferi e ela tinha escrito o cargo corretamente. Ainda bem, só faltava ter que esperar mais 20 minutos para ela fazer uma nova guia. Assinei, peguei a senha (oh, Jesus, ainda tinha senha!) e voltei ao meu lugar. Não deu 3 minutos um cara gordinho de bigode e avental amarelado estava me chamando.

- Fernanda Rodrigues! Fernanda!

Fui andando rápido atrás dele e entrei no consultório.

- Pode se sentar. Então, você vai trabalhar na Pearson Education do Brasil. Pearson Education. Como designer... designer instru... what the hell is that?
- Designer instrucional.
- Ah, designer instrucional? Hum, designer instrucional. Pearson Education. Escola de inglês, né?
- Não, é uma editora.
- Ah sim, editora! É que tem uma outra que tem uns dicionários, uns livros de inglês, uns dicionários que você vai lá - ele falava e colocava o medidor de pressão no meu braço -, não lembro o nome dessa.
- Longman?
- Isso, Longman!
- É da Pearson também.
- Isso, Longman! E Penguin! Que tem uns livrinhos de inglês bem facinho... isso mesmo, Longman. Então, designer... você vai fazer as capas, colorir, fazer as capas dos livros, né?
- Não, não, vou projetar cursos online.
- Ah, cursos online! Que interessante! Sabe, tem um amigo meu que está aprendendo italiano. Ele está há meses, meses!, na primeira lição do livro. Há meses na primeira lição, veja só que coisa! E não adianta, ele passa um tempão fazendo e não aprende nada. Porque não adianta ter o melhor livro do mundo. Você dá um livro pra ele e pergunta: "gostou desse?", ele fala "não". E desse aqui? "não". Então não adianta, não importa o livro se a pessoa não interesse!
- Uhum. - Já estava ficando sem paciência com o velho.
- As meninas aqui estão fazendo inglês. Você fala inglês, né? - Ele ameaçava riscar a ficha e nunca riscava.
- Uhum.
- Então, elas querem falar também, estão fazendo aula e tudo mais. E outro dia eu perguntei: "estão estudando inglês?" e elas disseram: "não, estamos de férias." Mas imagina, estão de férias! Para aprender inglês você tem que praticar, não importa se está ou não de férias. Tem que ir lá no livro, ver o vocabulário, lembrar, voltar e ir revendo tudo.
- Uhum.
- Porque não adianta, Fernanda, se a pessoa não tiver interesse, não há design que chegue! Não há design que chegue!

O sorrisinho simpático que eu tinha no começo já tinha ido embora.

- Porque inglês engana a gente. Em português a gente tem 4 artigos. Em inglês tem só um! Aí o cara vai lá naquele Yahoo, Yahoo Answers... conhece esse?
- Uhum.
- Então o cara vai lá e fala que quer traduzir "carecão" para o inglês em uma palavra só. Não dá, não é igual português! Que nem, que nem "um amigo". Você não vai traduzir para "one friend", numeral. Tem que ser "a friend", mas o pessoal não entende. E se não tem interesse em aprender, não tem, não tem design que chegue!
- É. - Impaciente, já pegando a bolsa na outra cadeira.
- Então tá aqui, Fernanda, vou assinar aqui, porque o importante é você se sentir bem, né? O importante é se sentir bem e ir em frente. E você eu tenho certeza que está bem, né?
- Sim! Sim, claro!
- Então é isso aí. Esse papel vai para a Pearson e você pode entregar para eles e dizer que está tudo bem. Porque o importante é você se sentir bem, o resto é resto. Então boa sorte na Pearson!
- Obrigada, doutor. - Praticamente arranquei o papel da mão dele.

Nem acreditei! Um exame admissional com 20 minutos de duração! Sem perguntas sobre a última vez em que fiquei menstruada, meu peso e altura, nada disso. Nem sei se minha pressão estava normal, porque ele mediu enquanto falava e sequer parou um minuto. Incrível como médicos podem ficar realmente carentes.

Da próxima vez vou entrar com cara de bem (mais) mau-humorada e adiantar que estou com pressa e que parei o carro na contra-mão. Claro que ele iria fazer alguma piadinha sobre meu tamanho e o fato de já ter habilitação, mas seria melhor do que aguentar todo o papo sobre o cara que não consegue aprender italiano.

4 comentários:

Ana disse...

rsrs só com vc mesmo! Isso nunca aconteceu comigo, ainda bem!! Já acho chato demais ter q ir nesses consultorios caindo aos pedaços com os médicos cheirando a naftalina pra fazer esses admissionais... imagina pegar um médico desses rs

Fernando Mucioli disse...

No meu primeiro exame admissional, achei que a médica ía quebrar meus dedos, minhas costelas e minha dignidade. Era uma moça delicada.

No segundo não aconteceu nada, mas quem foi comigo disse que o senhor simpático teve o cuidado de ressaltar como todos morreriam rápido - "assino mais atestado de óbito do que exame admissional".

Artur Palma disse...

Assim como o Fernandinho Mucioli, também fiz meu exame admissional com o Dr. House da Rua Pio XI. Mas, no meu caso, ele ficou falando como as pessoas comem carne vermelha e depois morrem.

Ele também falou como era importante não ficar sentado o dia todo para que a minha perna não fosse para o beleléu. Enfim, um psicótico de jaleco.

Luana Smeets disse...

Muito util pra mim, estou indo fazer um exame admissional hoje e como a explicação da secretaria: "ah é super simples" não me contentou essa sua explicação detalhada me deixou bastante satisfeita, rs