
Inveja todos nós sabemos muito bem o que é. Um sujeito cobiça o que ele não pode ter e torce para que o cobiçado afunde na lama, perca tudo o que tem, se torne um desgraçado. Resumindo, funciona mais ou menos assim: comprou uma BMW? Vai bater na primeira volta. Tem um marido bonito? Ele vai te trair, pode ter certeza. Está ganhando um bom salário? Não se preocupe, a demissão vem em seguida. E tudo por causa daquela vizinha gorda que não tira o olho grande de sua bem-sucedida vida.
Emulação é diferente. É muito mais admiração do que maldade. É basicamente uma forma de seguir uma pessoa (dando “follow” ou não), tendo-a como um mestre, um exemplo. Você pode emular um escritor, um músico, um amigo, seus pais ou, para os mais workaholics, seu chefe. Mas você não deseja o mal; ao contrário. Quer que seu emulado seja cada vez mais bonito e inteligente para que você possa, quem sabe, um dia, ser como ele.
Mas e a famosa “inveja boa”, onde entra? Não é contemporânea de Platão, mas é muito mais citada do que ele em nossos dias.
- Ai, meniiiina, que sapato lin-doooo! Deu até inveja!! Mas é inveja boa, viu?
A resposta é simples: “inveja boa” é um eufemismo para a inveja velha e pura. Você quer o sapato, acha que o merece mais do que a outra sirigaita. Aceite, você é uma invejosa e nada vai mudar esse fato.
Mesmo que você tente dizer que sua inveja é boa, por mais flexível que essa língua de Camões possa ser, essa acepção não existe. E o Aurélio, tadinho, não colocou essa definição em suas páginas e nem vai colocar. Quevedo repetiria: “ISTO NO EQUISISTE”.
Portanto, vá tratando de tirar “inveja boa” de seu léxico e de trabalhar um pouco para ter um sapato bonito também antes que, de tão invejosa, você seja a perfeita emulação da vizinha gorda.