3 de setembro de 2009

A da felicidade brasileira


O site da revista Forbes fez um ranking das cidades mais felizes do mundo. Adivinha quem ficou em primeiro lugar? Rio de Janeiro. Por mais que isso possa parecer piada de mal gosto para os paulistas, a cidade carioca encabeçou a lista na frente de Sidney, Barcelona, Amsterdã, Melbourne, entre outras.

A pesquisa utilizou, como justificativa para a liderança, a imagem de felicidade passada pelo Carnaval, que revela bom humor e "boa vida". Usou também a imagem de jovens dançando alegremente e, como ilustração para o resultado, uma foto do jogador Adriano. Enfim, uma consolidação de todos os elementos mais brasileiros que existem: Carnaval, Mulher e Futebol.

O quão bom isso é para a imagem do Brasil lá fora? Vender que além de termos belezas naturais somos um povo alegre, com boas energias e receptivos é crucial para o nosso turismo, é verdade. Mas a dura realidade é que esse tipo de "constatação" só continua disseminando o que, ao meu ver, nos caracteriza com um povo sem nenhuma seriedade.

Isso é bem perceptível quando você ouve os comentários de gringos sobre nosso país. "Oh, Brazil, beaches, Carnival, Rio, Ronaldo..." E quando você diz que mora em "Sao Paulo" eles dizem que nunca ouviram falar. Aí você explica que a cidade é o coração econômico da América Latina, tem 11 milhões de habitantes e é tão agitada quanto Nova York e eles fazem cara de total surpresa: o país do povo pelado anda de terno também?

Cultivar a imagem da beleza e alegria não nos faz mais capazes de resolver nossos problemas sociais e econômicos. Ao contrário, nos traz outros problemas - turismo sexual, por exemplo. Faz com que o nosso país seja eternamente atrelado a coisas que não engrandecem a ninguém. Que gringo vem ao Brasil para visitar um de nossos museus ou conhecer um pouco da nossa curiosa história?

Ao invés de mostrar que não somos um bando de índios que nasceram para sambar e jogar futebol, reafirmamos tudo isso de sorriso no rosto e biquíni fio dental. E quem, assim como eu, não concordar com a tríade Carnaval-Mulher-Futebol como símbolos da nossa nação, é obrigado a tentar, todos os dias, ser menos brasileiro.

5 comentários:

Camila disse...

Eu gosto da parte do futebol. Mas é bom lembrar que eu torço pro SÃO PAULO e não pelo Brasil, obrigada.

Koelho disse...

A Forbes é americana, né? Estranho... não citaram que somos o país da Budweiser, desde 2007?

Anônimo disse...

Fê, não sei se posso falar, mas vou manter a privacidade da pessoa. Eu trabalho num lugar cuja professora tava dando aula de português para um grupo de playboys franceses que fizeram bullying com ela durante a aula. Ela questionou e eles falaram assim "você no nosso país é outra coisa, não professora" (pq ela faz o tipo negra gostosona)! Absurdo, não? Eles vieram pra cá não para aprender português e nossa cultura, e sim para pegar mulher, coisa que eles acham facílimo! Um CÚMULO!

Thais disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thais disse...

Nossa, concordo com você que esse título de cidade mais feliz ter ido para o Rio me deixou perturbada. Não só por tudo isso que você expôs, mas o que mais me incomodou foi o fato dessa imagem mascarar toda a verdade do Rio. É como se esse título revelasse uma falsa realidade não apenas para os gringos como para os próprios cariocas e todos os brasileiros. É uma avaliação visivelmente superficial que parece querer enganar sobre a pobreza, o tráfico, as favelas, a polícia corrupta. Será que tudo isso foi pensado na hora de elegerem o Rio como a cidade mais feliz? E pior ainda: será possível um povo ser realmente feliz diante de uma realidade dessa?

Tudo bem que felicidade é algo subjetivo, os cariocas podem realmente ser mais felizes do que os habitantes de outras cidades mais desenvolvidas. Mas duvido que todos os problemas políticos e sociais do Rio foram se quer cogitados para essa eleição.

Sinceramente, eu não acho nada bonito uma cidade com tantos problemas ser a mais feliz. Acho o cúmulo essa visão de beleza na pobreza, como se progresso só trouxesse complicações e bom mesmo seria a simplicidade. Isso me soa mais um reflexo de ignorância e conformismo do que felicidade. Até me assusta pela associação de que se tá feliz, então tá tudo bem. Quando li essa notícia, foi como um tapa na cara. A política do pão e circo dando certo: todo mundo se fodend* e achando tudo muito bonito só porque, afinal, ainda temos as mulatas e o carnaval.