16 de setembro de 2009

A da sátira

Já pararam pra pensar no que é uma sátira? Tirando o fato de que ela sempre deixa uma parte em fúria e a outra rindo, ela nada mais é do que a tentativa de manutenção de um status quo.

Explico: a sátira tenta fazer com que nos conformemos com uma situação, embora tenhamos consciência de que ela está errada, fora de lugar. Ou você já viu uma sátira chamando o povo pra revolução? É sempre "o Sarney rouba nosso dinheiro. E nem percebemos", acompanhada de uma ilustração irônica, como um Sarney de máscara de ladrão atacando sua bolsa enquanto você conversa com alguém. Mas não é "o Sarney rouba nosso dinheiro, vamos derrubá-lo e instaurar a ditadura do proletariado para tirar o poder dos bolcheviques e dar todo o poder aos trabalhadores do Brasil."

Isso é triste, porque uma vez que você ri de uma sátira qualquer está ali sujeito a balançar a cabeça e seguir em frente. A sátira não espera outra coisa de você. E você também não espera nada mais dela. Sabe que ela é tão útil quanto os Trending Topics do Twitter: eles estão ali em evidência agora, mas daqui a 5 minutos todo mundo já esqueceu de tudo.

A sátira nos engana porque achamos que ela é um movimento de vanguarda, de contestação. Mas não é! Está ali pra tentar mostrar que não há nada que se possa fazer contra aquilo que ela teoricamente está contestando, e que você é simplesmente uma massa de manobra burra acreditando na liberdade que o sujeito satírico possui, dando risada de uma realidade que não vai mudar. A sátira é o fruto proibido que Eva comeu, todo mundo sabe, todo mundo acha graça e ele continua sendo fruto, continua sendo proibido. Não importa se ela vai comer de novo, e de novo, e de novo...

Pense na sátira como uma diversão aleatória que o destino quis colocar na sua vida. E, para o seu bem, pense nela como uma teoria bem trabalhada que pode salvar seu dia. E balance a cabeça concordando como se nada estivesse acontecendo, porque o satírico, de verdade, está aí: vai, humano bobo, dá risada da sua própria desgraça.

4 comentários:

Artur Palma disse...

Comunista!

Repito: C-O-M-U-N-I-S-T-A!

Thais disse...

Eu acho que a sátira é reflexo de um comportamento humano absolutamente compreensível: o xiste.

E é exatamente nas coisas mais sérias que ele se revela. Nunca vai haver uma boa sátira de algo banal. Como nunca vai haver algo importante sem uma piada, uma brincadeira ou uma sátira. É a maneira de lidarmos contra aquilo que nos incomoda e nos coage.

Mas não concordo que ela é a causa para ficarmos paralisados e não reagirmos. Duvido que sem ela procuraríamos outras formas de expressão e tomaríamos atitudes. Você mesmo, enquanto escreve sobre isso, não está fazendo nada além de escrever e isso vai mudar a corrupção tanto quanto uma boa sátira.

Discordância de opinião à parte, tá muito legal seu blog, Fê. Fiquei até com vontade de fazer um blog de assuntos sérios tb. Muito interessante os temas que você aborda e como vc escreve! Vou passar mais por aqui. rs

Bjns

Anônimo disse...

Serei sucinta, mas real: escreveu MUITO bem sobre algo bastante incompreendido. Como diriam alguns amigos meus "sarcasmo é para poucos". Caso verídico: você alopra uma pessoa sendo sarcástica, ela não entende e ainda te chama de louca! Eu sou louca ou ela é burra??

Nem vou assinar pq ela pode ler um dia, quem sabe...

[Ha...]

Roger disse...

Belo texto! Concordo: a sátira não leva à ação. Mas ela nos ajuda a entender um pouco melhor essa inumana natureza humana. O problema é quando a sátira é sobre nós mesmos: mesmo relendo o Cândido de Voltaire fico torcendo para que as coisas dêem realmente certo no final... gente que é gente não aprende nunca!