24 de janeiro de 2010

A de São Paulo

Em São Paulo, você certamente ouve pelo menos uma vez ao dia pessoas reclamando do trânsito e fazendo planos de mudança para o interior, exterior, ou qualquer outro lugar em que tenham uma vida mais tranquila. Pelo menos 90% delas não cumprem nada.

Difícil explicar porque todo esse caos é tão necessário em nossas vidas. Não há cidades melhores para morar no país? Todo mundo fala do bom planejamento de Curitiba, da qualidade de vida do Rio... por que ninguém vai pra essas cidades e deixa São Paulo um pouco mais vazia, com menos trânsito e menos lotação no transporte público, mais vagas de emprego e menos sujeira?

Porque todo mundo precisa dos salários mais altos pagos em São Paulo - e das empresas que estão aqui pagando esses salários - que, pior de tudo, nem são tão grande coisa assim. E porque, por mais estranho que possa parecer, temos uma verdadeira obsessão por essa cidade bizarra, que convive com Morumbi e Itaquera de modo tão estranho.

Admita, você gosta de contemplar a Av. Paulista de vez em quando enquanto pensa "Olha só, nossa Wall Street, que bonita...", entre uma buzina e outra. Ou de olhar pro Ibirapuera e pensar que ele até que é parecido com o Central Park, que a Ponte Estaiada é a nossa Golden Gate - e o fato de o Pinheiros River não ser a San Francisco Bay é mero detalhe.

São Paulo tem esse quê de primeiro mundo dentro do Brasil, um pedaço que não se encaixa no resto, de tão grande e caótico, esbanjando beleza e pobreza entre tão poucos quilômetros. Um lugar tão miscigenado quanto algumas cidades canadenses, mas que não teve nenhuma estrutura e planejamento para receber todo mundo, já que a ideia era "dar uma esbranquiçada" por aqui com sangue alemão. E aí a gente fica assim, vendo favela e Alphavile (que não é São Paulo, mas é como se fosse), um do lado do outro.

Não vamos embora. Temos orgulho do sangue paulista-italiano-alemão-espanhol-português-árabe. Gostamos de ir pra nossa China Town aos domingos, pra nossa Little Italy nas quintas-feiras... Gostamos da camada de poluição que forma o céu alaranjado do fim de tarde seco, das voltinhas no shopping confortável que nos abriga durante as enchentes...

Não é que gostamos do caos. Mas também não podemos viver sem ele.

É isso aí, São Paulo, 456 anos, nenhuma perspectiva de melhora, e continuamos aí com você. Não mude, viu?

3 comentários:

Fernando Mucioli disse...

A cidade é muito boa - o problema são as pessoas que vivem nela. Como em qualquer lugar do Brasil.

Artur Palma disse...

Faço das palavras do Menino Mucioli, as minhas...

Esther Alcântara disse...
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