26 de outubro de 2009

A da música e da poesia

Eu não consigo entender a relação que as pessoas fazem entre música e poesia. E não é que me falta base teórica: esse semestre mesmo, durante as aulas de Teoria Literária com um especialista em escrita e oralidade, fui obrigada a ouvir, por exemplo, “Navio Negreiro” do Castro Alves na voz do Caetano Veloso com batuques ao fundo. Quem me conhece sabe bem que isso foi um momento bem difícil da minha vida.

Em outra aula do curso, o professor, no ápice de suas conclusões, colocou para tocar o canto do sabiá laranjeira, contando em seguida as sílabas e acentos. “O sabiá canta em redondilha maior!”, exclamou empolgado. Ele tinha acabado de nos mostrar que a "Canção do Exílio" também foi feita em redondilha maior e estava quase com uma lágrima escorrendo pelos olhos, já pensando nas relações que sua descoberta poderia ter com aquelas aves que aqui gorjeiam e não gorjeiam como lá. Eu (junto com toda a turma) não consegui segurar a risada.

O que me parece é que a gente vê música em qualquer poesia que quer ver. E pode ver poesia em música também, mas isso não quer dizer que as duas coisas estejam conectadas. Dizer que alguma coisa é poética, em geral, faz com que a coisa assuma um valor maior do que tem. E para isso cito o exemplo do Chico Buarque: quantas pessoas nesse país não o clamam como o maior poeta brasileiro?

Sem entrar nos méritos da questão, posso dizer seguramente que isso está errado. Tudo bem ficar em dúvida entre Bandeira e Drummond, Bilac e Cruz de Souza (ok, riscarei esses dois últimos), mas Chico não deveria entrar na lista. Ele é um compositor, escreve músicas (e aqui eu mais uma vez me esforço para ser bastante imparcial), e tenho certeza que jamais pensou em publicá-las em um livro. Afinal, ele tem livros publicados, quase todos eles em prosa. Também sem entrar nos pormenores da qualidade desses livros.

Música e poesia têm suas semelhanças, é verdade: os versos, as rimas e o sentimento que abarcam quando lidas ou ouvidas. Mas o propósito com que foram escritas anula qualquer possibilidade de classificá-las de outra maneira. Eu leio poesia e posso até aceitar alguém que a declame, mas música eu canto ou berro, escuto alta nos fones de ouvido ou toco a palhetadas rápidas na minha guitarra. Não consigo imaginar toda essa possibilidade de agressividade sonora na poesia, apenas uma emulação de agressividade que alguns fonemas podem assumir. O que jamais chegará a ser, de fato, um ritmo ou uma nota musical.

No final, algumas coisas ficam bem mais claras: um discurso poético pode ter características de discursos orais. Mas o musical vai bem além da possibilidade de oralidade. O musical é a união do que é interno com o que é externo, enquanto a poesia é a interioridade pura, com toques de exterioridade que não chegam a ser musicais a não ser que você construa, na sua interioridade, uma musicalidade própria da poesia escrita.

Mas esse post ficou filosófico demais. Vamos quebrar o gelo de vez: odeio MPB. Adoro poesia brasileira. Colocar as duas coisas assim, juntas em uma só pessoa, já é suficiente para comprovar minha teoria: música é música, poesia é poesia.

15 comentários:

Thais disse...

Como assim você não entende a relação entre a música e a poesia? Não têm a ver? Achei que você não conhecesse Chico, mas tô vendo que você também não conhece música mesmo. Você pode não gostar de MPB, tudo bem, gosto é gosto e ponto. Mas suas razões expostas e seus argumentos estão errados. Gostar de música só pela melodia é válido, mas limitado. A música vai muito além e, se você não é capaz de perceber isso, por preconceito ou seja lá o que for, sua percepção não está completa e você está perdendo muito! Aliás, sua falta de conhecimento até justifica você não gostar de MPB, já que sua maior beleza está na união entre essas duas artes.

Para saber mais nem precisa ir longe, um Google já esclarece bastante. Só para exemplificar, achei algo que pode ser interessante: http://tinyurl.com/yh24ghb

Glaucia disse...

Sinceramente, eu discordo completamente das justificativas para diferenciar música de poesia!

Não vou entrar no mérito do que define uma música ou uma poesia, até porque isso seria muito reducionista da minha parte. O fato é que, na arte, música e poesia estão sim relacionadas. Acho extremamente limitado dizer que música e poesia foram escritas com propósitos diferentes. Então, existe um propósito exclusivo para a música e um outro para a poesia? Que absurdo!

Reduzir música a sonoridade é o mesmo que dizer que apenas quem ouve pode curtir uma música!! Não faz o menor sentido.

Enfim, se a crítica é à MPB acho mais válido dizer que não gosta e pronto.

Fernanda disse...

Meninas, é preciso esclarecer: não fiz o post simplesmente para criticar MPB - citei isso na última frase apenas. Foi um exemplo. Não veria poesia em qualquer outro estilo musical. Usei como exemplo apenas pelo fato de ser esse o estilo clamado como poético mais frequentemente. Na verdade é difícil escrever sobre impressões tão pessoais sem parecer um ataque dirigido a alguma coisa ou alguma pessoa, mas vou tentar expor tudo isso melhor em um outro post, talvez.

Artur Palma disse...

MPB de cu é rola...

Vou deixar bem claro, Chico Buarque é um merda, suas músicas são uma bosta. Além de não saber cantar, algumas pessoas tem a ousadia de dizer que ele entende as mulheres.

Claro, entende. Mulheres submissas e omissas como todas com que ele se relaciona.


Mas saindo do âmbito deste BOSTA, música não é poesia, quem afirma que é é porque jamais se esforçou para compor um verso sequer. Toda a mecânica de composição musical funciona através de métrica e de um sistema sonoro completamente diferente. Você não calcula uma poesia em tempo de 4/4, 3/4 ou qualquer outra merda. Se você for um cretino e se preocupar com redondilhas ou o caralho, depois de meia dúzia de músicas todas serão iguais. Há um limite de combinações que podem existir em acordes.

Além disso, a composição de uma letra de música é apenas uma parte em uma montanha de sentimentos e expressões que são passados que são passados no ritmo e som dos instrumentos.

Por isso, se você chamar Chico Buarque de poeta, não diga que ele é música e vice-versa. Uma coisa pouco tem a ver com a outra, não é só porque se pressupõe que ambas tenham rimas que as tornam a mesma coisa. Podem ser parentes - até próximos -, mas não são a mesma coisa.

Lindolfo disse...

Eu ia comentar usando embasamento teórico, mas depois de ler de um sujeito que Chico Buarque é um bosta que faz músicas para mulheres submissas e blá blá blá, deixa pra lá. Não vale a pena.

Independente do meu ponto de vista, gostei do post. Texto de qualidade.

Maddyrain disse...

Ai, pouco me importa se música e poesia são as mesmas coisas. O importante é que eu super faria o Chico Buarque em seus 20 poucos anos!!
Ai que delícia! Ele pode não entender de mulheres, mas entendendo de sexo, já basta!!

Ai, Fê Linda, não era aqui no seu blog que tinha um leitor com medo da Maddyrain? Agora que Maddyrain virou espírito de candomblé, diga pro seu leitor que posso puxar o pé dele à noite...
hihhihihi

Um beijo,
Maddyrain

Pedro Guilherme disse...

Primeiramente gostaria de dizer que a discussão a respeito de letra de musica e poesia é uma discussão muito boa.Porem é indiscutível a relação entre musica e poesia.Estudos contemporâneos (no final do post vou colocar alguns deles) estudam essa íntima e complexa relação entre música e poesia.Por falar nisso , me lembro quando prestei a FUVEST 2004 de cair no tema da redação uma letra dele, chamada futuros amantes.Mas enfim , pode não ser nada.
Vamos a estudos mais profundos. Não vou colocar a minha opinião aqui, embora estude música desde os seis anos de idade (estou com 23). Vou inserir links a respeito dos comentários que fizer, com respectivos comentários ou artigos técnicos a respeito desse tema. Vou fazer isso para cessar qualquer dúvida a respeito do tema.Quem discordar, por favor , não coloque sua simplória opinião, frente a opiniões de pessoas tão renomadas.Ache alguém renomado que não concorde com essa opinião.
Vamos então:
A autora do post disse que: “ música é música, poesia é poesia” e tentou convencer-nos da dissimilaridade existente entre as duas formas de expressão.
No seguinte link , temos o currículo de uma pessoa que discorda da opinião, o grande Luciano Marcos Dias Cavalcanti.Ele tem doutorado em Teoria e História Literária pela Unicamp.Ele gosta muito desse assunto entre musica e poesia e a seguir disponibilizo um artigo internacional em que ele verifica, através de um estudo comparativo, as relações existentes entre a Música Popular Brasileira – utilizando, especificadamente, as canções de Chico Buarque – e a poesia.Muito interessante!
Currículo dele:

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4188599P4

Artigo por ele publicado:
http://www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/revistas/travessias/ed_003/arteecomunicacao/MPB%20POESIA%20MENOR.pdf

Quem tiver paciência para ler o artigo fica mais do que claro a relação entre musica e poesia.A seguir vou colocar trechos do artigo para quem não o quiser ler:

“A relação entre música e poesia vem desde a antigüidade. Na cultura da Grécia Antiga, por exemplo, poesia e música eram praticamente inseparáveis: a poesia era feita para ser cantada. De acordo com a tradição, a música e a poesia nasceram juntas. De fato, a palavra “lírica”, de onde vem a expressão “poema lírico”, significava, originalmente, certo tipo de composição literária feita para ser cantada, fazendo-se acompanhar por instrumento de cordas, de preferência a lira.”
“Entretanto, mesmo separado da música, o poema continuou preservando traços daquela antiga união.”
“A análise global da obra de Vinícius de Moraes pertence tanto aos estudos literários propriamente ditos quanto aos da música popular, tanto que em seu disco Canção do amor demais suas canções vieram assinadas “Música: Antônio Carlos Jobim; Poesia: Vinícius de Moraes”.
“A qualidade poética da MPB se torna tão evidente que vários estudiosos da poesia brasileira chegam a dizer que se quisermos estudar a poesia desta geração, não poderemos deixar de lado os “textos” de compositores da MPB, como os de: Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Capinam, Torquato Neto, etc.”

Pedro Guilherme disse...

Sobre o seguinte comentário de Artur Palma :”... música não é poesia, quem afirma que é é porque jamais se esforçou para compor um verso sequer. Toda a mecânica de composição musical funciona através de métrica e de um sistema sonoro completamente diferente...”
Sobre este comentário coloco os seguintes, do artigo:

“Como bem frisamos, em grande parte da história, a poesia e a música sempre foram expressões artísticas que se utilizaram de técnicas semelhantes para se realizarem formalmente, tendo como traço estrutural mais comum o ritmo”

“A análise das canções da MPB do ponto de vista literário pode ser beneficiada se analisarmos a palavra e melodia conjuntamente, já que a integração dos dois elementos é essencial para que a canção se realize de forma integral, como já foi dito em um momento anterior. Letra e música se misturam, amalgamando-se em uma coisa só.”
“Quando se avalia a estrutura, o significado e a efetividade poética da letra de uma canção é preciso considerar como o fluxo das palavras está arrumado para a entonação harmoniosa e se as características melódicas têm algum efeito notável sobre o texto.”
“Perrone nos diz que a relativa complexidade de uma composição pode influenciar a análise do seu texto.”
“Os cantores e compositores dispõem de alguns recursos a mais, como a possibilidade de utilizar de técnicas como a superposição de vozes, o intercâmbio entre voz e instrumento, ou modificações sugestivas de pronúncia para alcançar efeitos de que na poesia livresca o poeta não dispõe”
“As letras das canções da MPB são invadidas pela poesia e até mesmo em alguns momentos se sustentam independentes do contexto musical”
“A elaboração artística das letras da MPB se tornou evidente para os críticos literários, chegando alguns destes a pensar que os poetas desta geração optaram pelo veículo musical...”

Bom , até aqui temos muito material para convencer qualquer leigo no assunto.Porem , podem dizer futuramente que essa pessoa que escreveu o artigo é tendencioso, etc. e tal.Por isso juntei outras grandes opiniões:

Afrânio Coutinho (ocupou a cadeira 33 da academia brasileira de letras) chega a fazer a seguinte declaração a respeito de Chico Buarque: “A meu ver o maior poeta da geração nova é
Chico Buarque de Holanda. É preciso não esquecer que sua música veicula ou se associa a uma das mais altas e requintadas formas de poesia lírica.”

Segundo Perrone (outro ás no assunto , ele tem um livro intitulado Letras e letras da MPB, que trata do assunto), o conteúdo literário das canções de Chico origina-se de seu domínio da rima e do ritmo, de sua cuidadosa manipulação de efeitos sonoros, de sua coerente forma de estruturar o texto poético e seleção lexical, do uso de metáforas e símbolos, da sutileza no uso de figuras de linguagem e nas idéias e da percepção profunda de fenômenos psicológicos e sociais.
Também recomendo Afonso Romano Sant’anna: Música popular e moderna poesia brasileira.

Bom, vou parar por aqui. Quem não concordar com o post, por favor não coloque eu acho, ou fale seu BOSTA, ou qualquer outra coisa a respeito.Por favor, responda com base em opiniões de críticos consagrados.Assim continuamos o debate.
E para quem quer apreciar a poesia de Chico , temos vários críticos consagrados que destrincham sua maravilhosa obra poética.Tem várias “destrinchadas” no artigo, além de ter inúmeros outros de igual teor.É fácil achar!

Grato pela atenção,
Pedro Guilherme

Paulo J. disse...

xingar e usar palavras baixas é tipico de adolecente. rebelde de cu é rola seria mais apropriado.

mt arrogância p/ pouco conhecimento, é isso o q/ eu ACHO (já q/ achar é o q vcs fazem de melhor).

Anônimo disse...

Como é que uma pessoa quer ter razão ou argumentar algo com tanto termo chulo no texto! Ainda assim quer discorrer sobre Chico?

Não quero pensar desta forma, mas... só pode ser algum frustado sexual para enxergar Chico Buarque apenas por por este ângulo "de mulheres submissas".

Vai estudar um pouco; melhor, vai ler o Estadão, UOL, até mesmo o Wikipédia e vê se melhora um pouco o vocabulário e o repertório intelectual - porque o musical não merece tê-lo como apreciador de boa música.

Chico Buarque pelo menos contribuiu com alguma coisa para a língua portuguesa e vc, o que fez a respeito?

Lovegod disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lovegod disse...

Oi Fernanda! Penso ser muito válido o seu questionamento. Concordo que são coisas diferentes. Embora crie letras com características da poesia, tais como o eu - lírico, ou até letras épicas; além de procurar uma metrificação também existente nas escolas literárias como o Parnasianismo, por exemplo, Chico Buarque não constrói poemas. Ele faz canções (que é a união de letra com melodia, segundo a definição do professor Tatit). Ocorre que, por as letras terem essa aproximação com características poéticas, há uma classificação equivocada por parte das pessoas em dizer que se trata de poesia. No entanto, mesmo que não seja, isso mostra que Chico se vale desses recursos porque possui esse conhecimento literário como leitor. Isso agrega valor à sua obra, e permite relacioná-la com as características literárias utilizadas no formato criado. Entretanto, é claro que, a partir do momento em que se coloca a melodia, deixa-se o âmbito da poesia e vira o formato canção. Outros compositores, como Jorge Ben Jor, por exemplo, difere de Chico na aproximação com a literatura, e isso não diminui a sua obra. Prevalece o gosto e intenção de cada compositor. Não estamos falando da temática utilizada, mas da construção da letra da canção. Contudo, embora as pessoas que classificam Chico como poeta estejam tecnicamente equivocadas se considerarmos os diferentes gêneros artísticos e formatos de se fazer arte, não as julgo. A arte não se limita ao próprio texto e formato. Ela pode ser intertextualizada e hipermidiada com outros gêneros. Isso possibilita uma conexão que pode ampliar ou deturpar o sentido, desengessando-a.
Sugestão: não veja a MPB nem outro gênero musical com esses olhos nem como poesia, pois não são. Veja as características poéticas que fazem sentido em muitos álbuns. Veja se as características da melodia se enquadram com a temática. Tenho certeza que extrairá muita coisa interessante dessa forma. Embora tenhamos que analisar de uma forma técnica, exigida pelos nossos professores, penso que a arte é maior do que suas classificações. Ela é a prova de que o ser humano pensa, sente, e tem a opção de não viver apenas para comer e dormir.
Parabéns pelo post!
Amadeu Munhos Leite

Babooshka disse...

Ai gente! tinha que ser esse povo letrado da USP, né!

Ainda bem que eu saí daquele antro e não preciso perder meu tempo discutindo algo desse tipo. Polemicazinha daquelas pra pseudointelectual expor toda sua formação "aleijada e hipócrita" que a melhor universidade brasileira pode oferecer!
Relação entre poesia e música? Será que ninguém estudou trovadorismo nem se lembra dos aedos?
É óbvio que ocorre uma separação entre poesia e música na modernidade (não é próprio da burguesia querer classificar, rotular ao máximo? é assim que ela consegue ordenar o mundo, criando disciplinas rígidas, preocupando-se com a separação e a não contaminação entre as áreas do conhecimento... e música e poesia se tornaram logo produtos culturais diferentes). Ponto!
É fato que a lírica moderna ora se afasta ora se aproxima da música. Mas acho que a bunitinha aqui pensou nessa separação estanque partindo da lírica mais recente - e ainda citou casos problemáticos: Bandeira foi musicado muitas vezes, Drummond algumas, Chico sempre se definiu como compositor e cantor, mas (gostando dele ou não) não se pode deixar de considerar o diálogo da sua produção com a cultura literária...

Enfim! A gente podia parar de pensar nas coisas de maneira binária, não?
Quando conseguiremos enxergar o mundo além das dicotomias acadêmicas? Quando vamos perceber que certas discussões servem pra alguns poucos metidos a intelectual ganharem notoriedade e dinheiro (como os citados)? Sinceramente, pra mim, a universidade e os que estão nela deveriam parar de se preocupar com a mera conceituação, com a simples e rígida classificação.

beijo e não me liga!

Elenice disse...

De onde você veio?

Anônimo disse...

Artur Palma, parabéns... Chico Buarque É A MERDA, não é um merda... música xoxa, agora irmã ministra.. resquícios do pai dele, que valia alguma coisa.. o resto da família.. apenas ocupa ar, água e espaço neste mundo....